Olá!
Obrigado pela ótima pergunta. Precisarei caminhar por uma parte do
contexto histórico que trará a compreensão de maneira mais clara.
Quando nos referimos ao tempo de Jesus, lembramos que o que estava
em vigor naquele tempo era a Lei de Moisés, Jesus trouxe o
cumprimento dela (Mt 5.17), principalmente em seus aspectos
cerimoniais. Se levarmos em consideração que existiam dois tipos
de orações feitas: Comunitária (Templo) e privada/particular, neste
sentido podemos dizer que as orações eram iguais. A maneira como
devemos orar também foi ensinada por Jesus (Mt 6.9) naqueles dias
e é um ensino para nós também hoje. Isso nos dá base para entender
a semelhança na maneira de orar. Todavia, as pessoas não podiam
se achegar direto a Deus, como nós hoje também não podemos. A
grande diferença se dá na questão dos sacrifícios que eram feitos
para o perdão dos pecados, essa era a natureza principal dos
sacrifícios:
Enquanto que no Antigo Testamento que perdurou até os tempos de
Jesus, dentro do plano progressivo de Deus, foi instituído a Lei
de Moisés e o Templo como formas de participar do povo de Deus,
dentro da Lei mosaica descritas principalmente nos livros de
Levítico e Deuteronômio, existiam diversas obrigações que o povo
deveria fazer, como parte das exigências de Deus para perdão dos
pecados. Sempre era necessário ser feito através dos sacerdotes, a
purificação não podia ser feita por si próprios. No entanto, nunca
deixavam de ser pecadores, como nós também neste tempo. Nos nossos
dias existe uma diferença significativa na substituição dos
métodos cerimoniais por Jesus, neste sentido é diferente, porque em
Jesus o sacrifício foi cabal, de maneira única e definitiva. Uma
nota digna de lembrança é que a oração é constantemente recheada
de arrependimento pelos pecados, gratidão, ajuda e louvor a Deus.
Os Salmos estão repletos de exemplos disso, então neste sentido
não era necessário oferecer um sacrifício para orar, muito embora
o sacrifício fosse ordenado de muitas maneiras naquele tempo, como
parte fundamental da reconciliação de Deus com o povo, não podemos
entender isso de forma cronológica, ou seja, a oração não vinha
necessariamente somente após um sacrifício, o sacrifício foi o
método instituído por Deus para ser feito pelo sacerdote para que
Deus perdoasse os pecados através deles. Então, apesar de estarem
intimamente ligados, não eram coisas obrigatoriamente feitas no
mesmo momento, o sacrifício e a oração.
Podemos ver vários casos de orações privadas que não eram feitas
com a apresentação de sacrifícios, Davi, Neemias (Nm 1:11),
Daniel. Podemos resumir que a mediação era feita desta forma no
Antigo Testamento, o sacerdote apresentava os sacrifícios de
reconciliação com Deus e da mesma forma temos a reconciliação
através de Jesus. Se pensarmos na necessidade ela continua igual,
porque antes era necessário reconciliação com Deus e aí acesso a
Ele. O que muda é que houve uma substituição para esta
reconciliação somente em Jesus (Jo 14:6).
Todavia, todas esses
sacrifícios e o sacerdote eram como sombras que apontavam para o
verdadeiro sacrifício e o verdadeiro sumo sacerdote que nós
sabemos quem era e como foi, Jesus Cristo na cruz do Calvário.
Então quando entendemos isso, sabemos que nossa oração nunca foi
direta, antes era intermediada por um sacerdote e hoje ela é
intermediada por Jesus que é o nosso sumo sacerdote, a diferença é
de que hoje o Templo e os sacrifícios não são mais necessários. Muito
embora a oração comunitária (na Igreja) e particular ainda sejam
da mesma maneira, hoje nós podemos olhar para cruz em busca de
perdão diferentemente de como era. Mesmo assim, da mesma maneira
como no Antigo Testamento e continua agora, é necessário
arrependimento diário porque essa sempre foi a essência do
sacrifício, um coração quebrantado (Sl 51:17). Outra nota digna de
cuidado é que poderíamos dizer que o reconhecimento pela
necessidade de arrependimento e perdão dos pecados deveria fazer
parte das nossas orações.
A salvação tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento
nunca foi baseada em obras. Antes as pessoas eram salvas por olhar
para a promessa do Messias (Gn 15:6), mesmo sem ver, desta forma
se tornando "amigos" de Deus e o obedecendo (Tg 2:23). A
obediência sempre foi a consequência da salvação e não o
contrário. No nosso caso, nós sabemos, podemos e devemos depositar
a confiança no Messias que veio, na mesma promessa do Evangelho e
também obedecemos por amor.
Após toda esta explicação, respondendo suas perguntas:
1-Sim, as orações continuam tendo a mesma forma: Comunitária e
Privada. O que havia de diferença era de que o perdão dos pecados
era feito por um sacerdote que intercedia junto a Deus e era
necessário ser feito várias e várias vezes, nós temos Jesus que
intercede por nós (Hb 7:25), sempre houve a necessidade de um
intermediador, o que mudou é quem é o intermediador. Jesus sempre
teve comunhão direta com o Pai (Jo 10:15, Mt 11.27), ele nunca
precisou de perdão, afinal Ele nunca pecou, Sua comunhão com o Pai
sempre foi perfeita (Jo 12:27), suas orações nunca foram
precedidas de sacrifício (a não ser o seu próprio pelos outros,
mas que foi feita depois das orações).
2- Sim, as pessoas podiam ter sua comunhão restaurada com Deus
olhando para frente, esperando a promessa do Messias (Rm 4:13, Rm
4:16), que era simbolizada pelo Templo (sacrifícios) e pela Lei que
leva a Cristo (Gl 3:24). Tudo isso apontava para Cristo. As
pessoas eram salvas olhando para frente pela promessa, nós olhamos
para trás, para mesma promessa no sentido que o Salvador já veio,
confiamos Nele para o perdão dos pecados e esperando Sua volta,
sem a necessidade do Templo ou da Lei no sentido cerimonial. A
salvação sempre foi do mesmo jeito em todas as épocas, pela graça
e pela fé (Ef 2:8).
É interessante ver como a maioria dos elementos do Antigo
Testamento apontavam para Cristo, em especial os sacrifícios dos
cordeiros e a necessidade de um intermediário, os quais os dois
são Jesus agora.
Em Cristo