terça-feira, 25 de maio de 2010

Apelando a Deus por uma boa consciência



Depois de remover a falsa confiança das pessoas na religião exterior, Pedro positivamente estabelece o que realmente salva: "a indagação de uma boa consciência para com Deus". O santo apóstolo poderia ter dito: "Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo" (ICo 12.13), Ele poderia ter dito: "não removendo a imundícia da carne, mas removendo a imundícia da alma". Em vez disso nomeia as obras da alma que asseguram a salvação graciosa de Deus — "uma indagação de uma boa consciência para com Deus". Naturalmente ele está falando de fé.

Deus deve ser satisfeito antes da consciência. Deus está satisfeito com a morte do mediador; então quando somos aspergidos pelo sangue de Cristo — quando a morte de Cristo é aplicada a nós — nossa consciência é também satisfeita. Assim é como "muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!" (Hb 9.14).

A "indagação de uma boa consciência para com Deus", então, é a mesma coisa que a fé. Pedro está descrevendo a atitude daqueles que se entregam para crer e viver como cristãos.

Quando cremos, nossa consciência se torna boa. Se Satanás coloca alguma coisa para nos acusar, podemos responder com uma consciência boa. "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? E Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós" (Rm 8.33,34). Podemos, com um coração aspergido com o sangue de Cristo, responder a todas as objeções, e triunfar sobre os inimigos.

Podemos "[nos achegar], confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna" (Hb 4.16).

"Uma consciência boa" no sentido em que Pedro emprega o termo, é uma consciência limpa da corrupção do pecado, livre para servir a Deus. Apenas os cristãos verdadeiros têm tal consciência. É uma consciência que olha para Deus e sabe que no final das contas vai responder a ele. Como podemos saber se estamos "em Cristo", se somos receptores da graça e do favor salvadores de Deus? A consciência nos foi dada para esse propósito, para nos dizer o que estamos fazendo, e por quais motivos estamos fazendo isso, e qual é a nossa posição diante de Deus. Se você quer testar sua saúde espiritual, simplesmente pergunte se sua consciência está fundamentada em Deus.

Se você é justo, honrado e bom porque sua consciência responde às ordens de Deus, é uma consciência boa. Mas se você faz boas obras ou rituais religiosos somente porque os outros verão, isso não vem de uma consciência boa (Mt 6.5,6,16-18). Uma consciência boa nos mantêm justos simplesmente por que Deus ordena. A consciência é a representante de Deus no coração de um cristão.

Portanto, o que nós fazemos que vem de uma consciência boa, fazemos de coração. Quando fazemos alguma coisa com má vontade, não por amor e não de coração, isso não vem de uma consciência boa. Uma consciência saudável não olha meramente o que fazemos, mas ela examina a razão pela qual fazemos — se é por amor a Deus e por um desejo de obediência, ou por um sentimento de obrigação melindroso.

Uma consciência boa renuncia a todos os pecados e os nega. Aqueles, portanto que lutam para alimentar a sua corrupção enquanto pensam que são cristãos, contradizem a sua profissão de fé. Aqueles que alimentam seus olhos com vaidade, e seus ouvidos com um discurso obsceno; aqueles que permitem que seus pés caminhem por lugares que infectam a alma, aqueles que, em vez de renunciar ao pecado, os mantêm — o que devemos pensar deles? Eles podem se considerar salvos por Cristo quando vivem com uma consciência suja?

Davi orou: "Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário" (SI 51.12). Ele havia perdido aquela alegria e espontaneidade por causa do pecado. Pois, quando deliberadamente pecamos contra a consciência, calamos a boca das nossas orações, e dessa maneira não podemos ir a Deus. Calamos a boca da consciência e, então, não podemos ir corajosamente a Deus. Trabalhemos para ser dóceis ao Espírito. Subme-tamo-nos a Deus em tudo o que somos exortados a fazer. Rendamo-nos à obediência de fé em todas as suas promessas. Isso é o que significa ter uma consciência boa. Assim, decidamos tomar este curso se queremos alcançar uma consciência boa.

Examinemo-nos cuidadosamente a nós mesmos e assim nossa consciência pode nos convencer do pecado que há em nós. Pergunte a si mesmo: Eu creio? Ou meramente apaziguei meu coração sem satisfazer a Deus? Eu obedeço? Eu quero moldar-me na forma da Palavra de Deus e obedecer a tudo que ouço ou estou apenas me enganando? Coloque essas questões no seu coração. "Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as cousas" (1Jo 3.20). Se respondermos a Deus com reservas (Vou obedecer a Deus nisto, mas não naquilo; eu vou andar com Cristo desde que eu não tenha que desistir do meu pecado predileto), isso não é resposta de uma consciência boa. O que é feito para Deus deve ser feito por inteiro e sem reservas. Se o nosso coração se recusa a fazer, não temos uma consciência boa. Obediência parcial não é absolutamente obediência. Escolher coisas fáceis que não se opõem à nossa concupiscência ou não intimidam nosso orgulho não é a obediência para a qual Deus nos chama. Nossa obediência deve ser total em relação a todos os seus mandamentos. Assim, examinemos-nos e perguntemo-nos se cremos ou não, se obedecemos ou não, e quais são os motivos que nos levam a agir assim.

A vida de muitos nada mais é do que uma quebra de sua profissão de fé. O que eles terão de procurar na hora da morte, e no dia do julgamento? Será que poderão esperar que Deus mantenha suas promessas para dar-lhes a vida eterna, quando eles nunca tiveram a graça de manter qualquer compromisso com ele? Como poderão eles procurar a graça de Deus então, quando rejeitaram aqui sua graça, e toda a sua vida foi uma satisfação de suas paixões naturais? Se sua profissão de fé não tem sentido agora, não terá também no dia do julgamento. Utilize esse argumento contra o pecado, quando for tentado.

Por outro lado, quando você cair, não permita que Satanás o tente ao desencorajamento, mas levante-se e lance-se sobre Cristo. A fé e o arrependimento não são atos que fazemos apenas uma vez; você deve viver crendo e arrependendo-se.

Richard Sibbes (1577 - 1635)

[Via]

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