sexta-feira, 28 de março de 2014

O que a Bíblia diz sobre...Ter amigos descrentes?





Antes de entender o que a Bíblia ensina sobre amizade com descrentes, é importante que, primeiramente, definamos os termos. Na Bíblia, existe uma diferença entre palavras traduzidas por “amigo”. Uma delas, significa um simples “colega, companheiro”. Foi assim que Jesus chamou a Judas, quando este veio para o entregar (Mt 26:50). Outra palavra traduzida como “amigo” envolve um pouco mais de afetividade, pois sua raiz é a palavrinha filo, que significa “amante de. Diríamos que ela seria algo como um “amigo querido”. Era assim que Jesus via os outros 11 apóstolos (Jo 11:15). É esse tipo de amizade que somos chamados a ter com nossos irmãos em Cristo (1Pe 3:8). Sendo assim, podemos dizer que, biblicamente, há dois níveis de amizade: um simples coleguismo ou companheirismo, e uma amizade fraterna, que envolva certa dose de comunhão.

         É óbvio que a Bíblia não condena este primeiro tipo de amizade. Isso é visto no exemplo de Jesus. Ele andou com Judas. Comeu com ele. Teve comunhão. Porém, o próprio Jesus o considerou um simples companheiro, ou seja, andavam juntos por terem uma atividade em comum. Eu diria, então, ser esse o tipo de amizade que mantemos em nossos trabalhos e atividades do dia a dia. Temos colegas de trabalho, de escola, de faculdade que conversamos e temos comunhão, porém no nível do companheirismo, por termos uma certa atividade que nos une. Portanto, digamos assim, ter colegas descrentes não é pecado.

       A questão maior existe no outro nível de amizade, aquela onde não é uma atividade em comum que une, mas laços afetivos. São aquelas amizades que existem por gostos em comum, onde os amigos têm prazer nas conversas e na comunhão um com o outro. São amizades que mantemos por decisão pessoal. Será que é, então, pecado ter amigos assim que sejam descrentes?

       Bem, a resposta a essa questão deve ser cuidadosamente dada, e exige uma certa dose de maturidade e equilíbrio do leitor. Isto porque ela é daquelas respostas do tipo “não, porque nem sempre”. Ou seja, não é pecado ter amigos descrentes, mas este tipo de amizade requer certos cuidados. Vamos entender isto.

     Primeiro, é claro na Bíblia que não é pecado, em si, ter amigos fraternos que não são crentes. Jesus teve amigos assim! Em Mateus 11:19, Jesus é criticado por seus opositores por ter amigos “publicanos e pecadores”. Jesus sentava com eles para comer, conversar e ter comunhão. Se Jesus tinha tal tipo de amizade, então é porque isto não é errado.

     Não obstante, embora a regra “se Jesus fez então não é pecado” se aplique aqui, uma ressalva precisa ser feita: Jesus não corria os riscos de uma amizade com incrédulos. De fato, sabemos que Jesus mantinha amigos incrédulos com o firme propósito de influenciá-los para o bem, de ensiná-los acerca do arrependimento e do evangelho. Além disso, Jesus certamente mantinha-se descontaminado de qualquer influencia pecaminosa que tal amizade poderia proporcioná-lo. Dito isso, penso que estes são os dois parâmetros a serem seguidos sempre que quisermos manter uma amizade com um descrente: 1) Esta amizade servirá para influência positiva em favor do evangelho; e 2) Esta amizade não me influenciará negativamente em favor do pecado.

       O seguinte texto nos dá base para o primeiro parâmetro:

Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 5:14-16)

      Enquanto estamos no mundo, não devemos nos esconder daqueles que precisam de luz. Pelo contrário, precisamos sempre procurar meios de fazer nossa luz brilhar diante dos homens e, assim, influenciá-los positivamente para que glorifiquem a Deus. Eu, particularmente, não vejo melhor ambiente para uma boa influencia do que uma amizade.

       Porém, no texto anterior a este que mencionei, diz o seguinte:

Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor?Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.” (Mateus 5:13)


       Este texto fala do perigo de deixarmos de ser uma boa influencia para os incrédulos. Uma amizade, portanto, onde nossa influencia não é positiva, mas neutra ou negativa, é uma amizade inútil e prejudicial. Uma frase que minha mãe sempre dizia era “Se você não é boa influência para os seus amigos, então você é uma má influencia para eles”. O que ela queria dizer é que se eu não dou um testemunho cristão para incentivar meus amigos a crerem em Cristo, então minha amizade é prejudicial a eles.

     Quanto ao segundo parâmetro, os seguintes textos nos deixam claro que qualquer amizade que nos influencia ao pecado é pecaminosa.

Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.(Salmo1. 1).

Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes.” (1Coríntios 15:33)

Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” (Tiago 4:4)

      Penso que tais versículos nos deixam claros os limites e os riscos do relacionamento fraternos com incrédulos. Em amizades assim, certamente ocorrem emissão de conselhos equivocados, assuntos pecaminosos em conversas, práticas contrárias aos bons costumes e à Palavra de Deus, e etc. Por isso, é necessário muito cuidado para não se deixar influenciar negativamente por qualquer coisa que desagrade a Deus dentro de uma amizade.

       Contudo, é pecado ter amigos descrentes? A resposta é não, não é pecado, desde que esta amizade sirva para testemunhar a Cristo e não seja uma fonte de influência pecaminosa às nossas vidas. Baseado nisso, para encerrar, gostaria de deixar alguns conselhos:

1) Embora você possa ter alguma amizade com um incrédulo, dê preferência às amizades com cristãos. A comunhão com nossos irmãos em Cristo é uma ferramente poderosíssima de Deus para trabalhar a nossa vida espiritual. Por isso, é altamente recomendável que a maioria de nossas amizades seja com outros crentes.

2) Saiba que a amizade com um descrente deve conter limitações. Por exemplo, não é bom ter como “amigo de conselhos” alguém que não está sujeito à Palavra de Deus. Ou então, é preciso cuidado ao querer frequentar determinados ambientes com amigos descrentes, os quais você sabe que não se comportarão de maneira adequada à Palavra de Deus. Ou seja, estabeleça os limites necessários para que você possa manter seu bom testemunho e não receba uma má influência.

3) Se você é uma pessoa que já possui certa maturidade cristã e firmeza na Palavra, então estimule-se a desenvolver amizades com descrentes com o propósito de testemunhar de Cristo a eles. Não estou dizendo, porém, que você deve usar as pessoas, dando-lhes uma falsa amizade com segundas intenções. Mas, sempre que vier à tona uma certa afinidade com um descrente, procure desenvolver e estreitar tal laço, para que ele possa ter uma fonte de luz em sua vida. Coisas como chamar em sua casa para conversar sobre o assunto, ou marcar uma refeição em algum lugar, ou mesmo marcar uma partida de futebol são algumas possíveis atitudes que podem proporcionar ao amigo incrédulo momentos de exposição a um testemunho cristão.

4) Avalie o que te atrai a uma amizade com um incrédulo. Temos nossos motivos para nos aproximar das pessoas. Gostos em comum, hábitos em comum, pensamentos em comum, dentre outros. Porém, se aquilo que nos atrai a um descrente for um gosto, hábito, pensamento ou qualquer coisa que não agrada a Deus, então esta amizade se constitue em inimizade contra Deus (Tg 4:4).
Pr. Antônio Neto

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