terça-feira, 25 de junho de 2013

A Teologia Bíblia do Novo Testamento e Seus Autores


A teologia bíblica estuda a Bíblia e organiza as conclusões em várias divisões e áreas de estudos, com a finalidade de estudar e conhecer a progressão da Revelação de Deus à humanidade desde a criação, queda, redenção e consumação, passando pelo Antigo Testamento e Novo Testamento.

A teologia bíblica parte da pesquisa exegética, ou seja, do específico para o geral. Em outras palavras, a teologia bíblica parte da exegese dos textos bíblicos como afirmação primeira, elaborando a partir dessa exegese afirmações decorrentes.

Através de um breve estudo da Teologia do Novo Testamento é possível observar a diversidade de vocabulários, diversidade de temas e também, claramente, apesar de toda essa diversidade a grande unidade entre todos os autores e textos do Novo Testamento, uma prova clara e garantida da inspiração divina das Escrituras Sagradas.

No Novo Testamento há a teologia de Mateus, de Marcos, de Lucas (Lc e At), de João (Jo, 1Jo, 2Jo, 3Jo e Ap), de Paulo (Cartas Paulinas), teologia de Hebreus, de Tiago, Pedro e Judas.

1. TEOLOGIA DE MATEUS

Os evangelhos de maneira distinta da maioria das biografias modernas, são relativamente breves. No Evangelho de Mateus fica claro que o escritor bíblico está apresentando um resumo do ensinamento de Jesus. A comparação de passagens semelhantes dos evangelhos sugere que cada escritor exerceu liberdade na apresentação e disposição do material. Essa liberdade permitiu que cada autor, sob inspiração do Espírito Santo, salientasse aspectos distintos das palavras e obras de Cristo.

Embora Jesus seja o foco central dos evangelhos, o relato de sua vida e de seus ensinamentos não é a única preocupação deles. Os evangelhos também ajudam a entender alguns dos fatores que levaram à formação da Igreja.

Ao mesmo tempo em que a vida e o ministério de Jesus são o foco do Evangelho de Mateus, ele também deixa claro que o que Jesus disse e fez, como também os eventos que conspiraram para levá-lo à cruz, faz parte do plano e propósito de Deus.

Todos os escritores dos evangelhos retratam a vida e o ministério de Jesus como o cumprimento da profecia e da expectativa do Antigo Testamento. Mas Mateus é bastante característico em relação a isso. Seus evangelho caracteriza-se por uma série de citações do Antigo Testamento introduzidas com o uso do verbo “cumprir”. A primeira ocorrência no evangelho de Mateus ilustra a natureza dessas introduções: “Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta” (Mt 1:22).

2. TEOLOGIA DE MARCOS

Entre os evangelhos sinóticos, certamente, Marcos é o menos considerado em comparação aos seus companheiros mais longos. Marcos possui apenas 10% do relato do Evangelho que contêm informações que não se encontram em Mateus e Lucas. É possível que isso tenha contribuído para o julgamento do Evangelho de Marcos o fato de ele, em essência, ser um resumo, ou condensação, dos evangelhos mais longos, em especial, o de Mateus. Inclusive Agostinho se referia a Marcos como o “abreviador” de Mateus.

Apesar dessa avaliação ter sido aceita como correta por mais de 1.800 anos, a partir do século XIX emergiu o consenso de que Marcos não é o “seguidor” de Mateus, como pensava Agostinho, mas foi o primeiro escritor de um Evangelho.

Vários aspectos do Evangelho de Marcos sugerem que essa ideia de Marcos como o primeiro seja a forma mais correta de apresentar os fatos. Pois se Marcos abreviou Mateus em vários pontos, fez um trabalho muito precário. Inclusive, a narrativa de Marcos da vida de Jesus, em mais de uma ocasião, é mais longa e detalhada que a de Mateus. Antes, Mateus, por comparação, parece ter resumido e condensado a narrativa.

Outro fator em favor dessa opinião está o fato do estilo utilizado em grego, o estilo de Marcos é com frequência mais deselegante em comparação com o de Mateus. Entretanto o fato dos escritos de Marcos conter algumas passagens em grego deselegante não deve nos surpreender nem nos desanimar, ao contrário, deve ser fonte de encorajamento. Esse fato fornece como ilustração, que Deus, com frequência, usa pessoas comuns para executar obras extraordinárias.

Embora muito do que Marcos escreveu em seu Evangelho seja ecoado nos evangelhos de Mateus e Lucas, seria errado pensar que ele não tem nada distinto a dizer. Marcos retrata a humanidade e a humilhação de Jesus de maneira única. Mostrou com grande efeito o que Jesus pretendia quando disse que “o Filhos do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (10:45). De modo igualmente empolgante o leitor consegue a compreensão de que seguir Jesus é um empreendimento com implicações profundas: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” (8:34).

Marcos, também, teve uma intenção única se comparado a Mateus e Lucas na maneira de não transmitir uma impressão positiva dos discípulos. Isso se deve em parte pelo fato de eles serem retratados exatamente da forma como eram, um grupo de pessoas bastante comum. Marcos também ressalta a fragilidade e a falibilidade dos discípulos de forma mais clara que os outros escritores dos Evangelhos.

A intenção de Marcos era que seus leitores se identificassem totalmente com os discípulos, eram homens e mulheres comuns que fracassavam. Mas a certeza e a confiança deles não repousavam em si mesmos, mas em Deus.

3. TEOLOGIA DE LUCAS-ATOS

O Evangelho de Lucas e o livro de Atos dos apóstolos juntos totalizam 27,1% do Novo Testamento, além disso, apenas Lucas-Atos contam a história de Jesus Cristo, desde seu nascimento até o início da Igreja e do ministério de Paulo. Essa ligação é importante, pois fornece uma visão panorâmica dessa sequência de eventos.

Lucas-Atos possui muita atenção voltada para Jesus e aos discípulos, com isso, podemos pensar que o principal tema de Lucas é a história de Jesus e da Igreja. Todavia, a principal responsabilidade de Lucas é muito mais profunda. Ele retrata que o plano de Deus foi executado em cumprimento à promessa divina. A inauguração desse cumprimento vem por intermédio de Jesus e da Igreja, composta de judeus e de gentios. A conclusão desse cumprimento se dará quando Jesus retornar (At 3:18-26).

Lucas escreve para Teófilo a fim de assegurá-lo sobre as coisas que ele aprendeu (Lc 1:4). Todavia, dois aspectos desse proclamado cumprimento seriam problemáticos: um salvador morto, e uma comunidade de Deus, que incluía gentios, perseguida, quando Israel se agarrava à esperança da promessa.

Lucas-Atos garantem a Teófilo que a perseguição da Igreja não é um sinal de julgamento. Lucas nos mostra que a perseguição fora predita e é o meio pelo qual a mensagem poderia alcançar mais pessoas em todo o mundo. Também nos mostra que a morte do Messias fazia parte do plano de Deus, e de forma mais relevante, a sua ressurreição e ascensão à direita de Deus, de onde oferece, como Senhor, benefício da salvação para todo aquele que se entregar a Ele. Assim, Deus e sua atividade são o centro de Lucas-Atos dos Apóstolos.

4. TEOLOGIA DE JOÃO

A teologia joanina é cristológica. A pessoa de Jesus Cristo está no centro de tudo que o apóstolo João escreve. Quer no Evangelho de João, com sua ênfase única na Palavra que se fez carne, quer nas epístolas joaninas, como o foco na Palavra de vida em meio à controvérsia das opiniões errôneas da Igreja, quer em Apocalipse, com suas visões de Cristo exaltado e de seu triunfo final, o principal objetivo do apóstolo é explicar a seus leitores quem Jesus é.

Entretanto, isso não significa dizer que João não tratou de outros assuntos importantes em seus escritos. Isso apenas quer dizer que tudo o que João diz, independente do assunto que está sendo tratado, ele está quase sempre relacionando à sua ênfase cristológica.

Claramente o tema teológico fundamental é a cristologia, João também trata sobre a glorificação de Jesus, consistindo não só da exaltação pelo Pai, mas também de sua morte, ressurreição e ascensão. Seguindo a isso existe uma ênfase de João no Espírito Santo, o substituto de Jesus após a sua partida; a doutrina da salvação que é provavelmente o segundo tema mais importante dos escritos joaninos; a teologia de João em relação à cruz, incluindo nesse assunto a ênfase na morte de Jesus como parte do plano de Deus, a natureza voluntária da morte de Jesus e seus aspectos sacrificiais; regeneração; fé; vida eterna, essa retratada como uma experiência presente que está disponível aos crentes.

Por fim, a escatologia joanina, inclui a tensão existente no Evangelho de João e em apocalipse entre a escatologia “futura” e a escatologia “cumprida”.

João, como parte característica de seus escritos, faz o uso por repetida vezes de antíteses, como luz e trevas, fé e descrença, céu e terra, e carne e espírito. Esses pares de opostos são incrivelmente importantes para a compreensão da teologia joanina. Não somente pelo impacto que têm nos leitores, mas também por que eles ressaltam a apresentação de Jesus, por parte de João, como o Messias e o Filho de Deus em escolhas antitéticas. Em outras palavras, o leitor do Evangelho de João tem que escolher ficar a favor de Jesus ou contra Ele, e essa escolha determina seu destino eterno.

5. TEOLOGIA DE PAULO

5.1 TEOLOGIA DAS EPÍSTOLAS MISSIONÁRIAS DE PAULO

O perseguidor da igreja transformou-se em um missionário de destaque e deixou um legado escrito para as igrejas que fundou e onde logo passou a ser reconhecido por ter relevância e autoridade permanentes.

As seis primeiras epístolas de Paulo foram escritas, em um período de cerca de dez anos (48-58 d.C.), no curso de três viagens missionárias. Fazem parte das epístolas missionárias de Paulo: Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, 1 Tessalonicenses e 2 Tessalonicenses.

Paulo escreveu essas epístolas por ser o pastor fundador e estar preocupado com o bem-estar das igrejas plantadas por meio do seu ministério. Em geral, havia assuntos específicos com os quais ele se sentia compelido a lidar.

Com frequência, Paulo atacava as falsas doutrinas ou as condutas impróprias que ameaçavam a estabilidade da comunidade cristã. As epístolas por tratarem de questões específicas, não apresentam, uma teologia abrangente ou sistemática. O escrito que mais se aproxima de uma apresentação teológica sistemática é a epístola aos Romanos, a única epístola, entre as seis, escrita para uma igreja que Paulo não fundou.

5.2. TEOLOGIA DAS EPÍSTOLAS PAULINAS ESCRITAS NA PRISÃO

As epístolas de Paulo são teologias aplicadas, e o objetivo dele é que seus leitores vejam o mundo e a forma como eles vivem diante de Deus, e isso é apresentado em termos de categorias e assuntos específicos e concretos. Não há melhor exemplo da natureza pastoral dos ensinamentos de Paulo do que suas epístolas escritas na prisão.

Incerto do próprio destino quando escreveu essas quatro epístolas, Paulo transmite fé na soberania de Deus e a certeza do triunfo, independentemente do que possa acontecer a ele nesta vida. Paulo regozija-se, sabendo que nada poderia destruir o que Deus fizera em Jesus Cristo, tanto para a nova comunidade na qual Deus criara na igreja como também para os indivíduos que são membros dessa comunidade (Efésios). Paulo também sabe que Cristo compartilha essa soberania divina e que Ele, nosso Mediador, é quem capacita o crente, de forma que tudo que a pessoa precisa para honrar a Deus nesta vida esteja disponível agora (Colossenses). Na verdade, Jesus transforma os relacionamentos em todas as esferas sociais à medida que a vida é vivida à luz do perdão e da reconciliação, a essência da comunhão (Filemom). Assim, Paulo pode se regozijar e chamar todos os crentes a reconhecer que sua cidadania é celestial, transcendendo quaisquer circunstâncias e sofrimentos que possam enfrentar nesta vida (Filipenses).

Fazem parte das epístolas paulinas escritas na prisão:
Colossenses: A primazia de Jesus Cristo, apenas Ele é nosso Libertador e nossa esperança, aquEle que capacita os Cristãos.
Filemom: Comunhão plena em Cristo relacionamentos transformados pelo perdão e a reconciliação.
Efésios: Em direção à congregação de todas as coisas em Cristo – O poder de Deus na nova aliança de judeus e gentios.
Filipenses: Conhecer a Cristo e viver como cidadãos celestiais em um mundo caído.

As epístolas escritas na prisão refletem o casamento da profunda teologia de Paulo com as preocupações pastorais. Deus triunfa na cruz e na ressurreição de Jesus. Assim, o Pai estende sua libertação àqueles que vão a Ele pela fé. Isso quer dizer que os crentes fazem parte do que Deus usa para refletir a redenção de toda a criação. Essa esperança suprema quer dizer que a vida neste mundo também é transformada.

5.3. TEOLOGIA DAS EPÍSTOLAS PASTORAIS DE PAULO

As epístolas de 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito são conhecidas como epístolas pastorais. Embora nenhuma dessas epístolas use o termo “pastor”, elas tratam de questões importantes enfrentadas pelos que são chamados a posição de liderança na igreja. Os livros afirmam que foram escritos por Paulo para seus companheiros, Timóteo e Tito, a fim de encorajá-los a permanecer firmes no evangelho em face de desafios heréticos. Embora endereçadas especificamente a Timóteo e Tito, essas epístolas devem ser lidas por toda a igreja, não apenas por seus líderes.

O núcleo teológico das epístolas pastorais é a necessidade de defender a fé contra os encorajadores de erros prejudiciais. Nessas cartas, o termo “a fé” é o verdadeiro objetivo do evangelho da graça de Deus que Ele viabilizou por intermédio da obra salvadora de Cristo, efetivada pelo ministério do Espírito Santo.

Para compreender a exata teologia dessas epístolas de forma apropriada é necessário estar familiarizado com a ameaça histórica dos falsos mestres em Éfeso e Creta. Esse histórico serve para esclarecer a ênfase teológica na obra da Trindade, a explicação da mensagem da salvação e as instruções concernentes à liderança e ao estilo de vida da igreja. Por conseguinte, examinar o erro que Paulo combate nos ajuda a avaliar a verdade que ele transmite para estabelecer uma igreja saudável.

6. TEOLOGIA DE HEBREUS

A epístola aos Hebreus, não é tanto uma epístola, mas um sermão na forma escrita. Esse sermão é dirigido a cristãos que estavam sob grande pressão por causa de sua ligação com Cristo.

A visão central de Cristo apresentada pelo autor de Hebreus é fundamentada no Antigo Testamento e em um conhecimento apurado da vida terrena, morte e ressurreição de Jesus. Ela é profundamente inspirada por uma reflexão teológica e por um significado dessas coisas em relação a fé e a vida cristãs.

A visão do escritor em relação a Cristo é a do Filho de Deus e Sumo Sacerdote exaltado que agora ocupa posição de honra suprema na presença de Deus. Assim é possível identificar quem Cristo realmente é e observar tudo que cumpriu no propósito eterno de Deus ao seguir o caminho da obediência.

Com essa concepção do Filho exaltado, os leitores podem enxergar sob uma nova perspectiva em relação a suas próprias circunstâncias difíceis e seguir com esperança renovada ao longo da trilha que Ele proclama para eles.

Essa visão de Cristo é o ponto central para o qual todos os principais temas teológicos de Hebreus se direciona, Cristo e sua missão; Do antigo para o novo: A história da salvação; e a vida cristã. Em cada um desses temas, o retrato de Cristo como o Filho exaltado e Sumo Sacerdote aparece de forma bastante incisiva.

7. TEOLOGIA DE TIAGO

A epístola de Tiago é conhecida por suas grandes exortações a respeito da vida prática cristã, um chamado para o exemplo de conduta cristã. Tiago não coloca nenhuma enfoque em temas teológicos como outros escritores bíblicos.

Ele não escreve com a finalidade de corrigir problemas doutrinários, mas para incentivar os cristãos a agir de acordo com o que acreditam, a ser “cumpridores da palavra e não somente ouvintes” (1:22). Embora Tiago enfatize a vida prática cristã, ele revela seus fundamentos teológicos e contribui com percepções distintivas para a teologia cristã.

Assuntos abordados por Tiago: Tentação, pecado, natureza humana, fé e obras, lei, oração, confissão e cura. Um bom resumo da mensagem seria, atos de amor e de bondade, não meras palavras, é a forma de os cristãos viverem sua fé e tornarem-se praticantes da Palavra.

8. TEOLOGIA DE PEDRO E JUDAS

A teologia de Judas é tratada junto com a teologia de Pedro pois os temas e composição literária de Judas são semelhantes aos temas de 2 Pedro, com foco nos falsos mestres, enquanto o tema principal de 1 Pedro é o sofrimento em meio a perseguição.

As três epístolas (1 Pedro, 2 Pedro e Judas), fornecem um grande ensino a respeito de quem é Jesus Cristo e muitos importantes tópicos teológicos, em especial 1 Pedro, relacionados intimamente com o que é dito sobre Cristo.

Uma das contribuições mais importantes dessas epístolas é o ensinamento sobre a Salvação que Cristo promoveu. É de extrema importância que Pedro enfatize a necessidade de o Messias sofrer e morrer em cumprimento da vontade de Deus (1Pe 1:11).

A obra de que Deus por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo proveu libertação espiritual da humanidade é outro tópico importante das epístolas de Pedro e de Judas.

Outros temas abordados nessas epístolas são: submissão e boas obras nas relações sociais; verdade cristã, ortodoxia e heresia; a autoria da Escritura; escatologia e julgamento.


FONTES:

5 – ROY B. ZUCK, Teologia do Novo Testamento, CPAD, 5.Ed 2012.


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