domingo, 4 de maio de 2014

A Importância dos Salmos na Vida Cristã



A Importância dos Salmos na Vida Cristã

As Escrituras descrevem várias orações feitas por pessoas a Deus, e a importância que tem a oração na vida cristã, todavia, não poderíamos desconectar o estudo e leitura das Escrituras, fazendo uso da frase de A.W. Tozer, conta que certa vez viu um homem perguntando a outro qual seria mais importante: Orar ou ler a Bíblia? Ele respondeu: O que é mais importante a um pássaro, a asa direita ou a esquerda?

Entendemos então que a vida cristã saudável deve ser recheada de oração e labuta, fazendo uso dos reformadores, que ensinavam que a vida do cristão deve ter o ''binônimo orare et labutare: Orare, porque a Bíblia é divina, porque somos pecadores, porque Deus é muito diferente de nós. Pela oração buscamos a iluminação do Espírito. Labutare, porque a Bíblia , como literatura produzida por seres humanos num determinado contexto, numa outra cultura e numa outra época, é humana, e está distante de nós, o que provoca a necessidade de estudo.''[1]

Sendo assim, como podemos aprender a orar de maneira que o próprio Deus aprove?

O Senhor Jesus, ensinou para seus discípulos a oração conhecida do Pai Nosso (Mt 6. 9-14; Lc 11. 1-4), com intuito de dar uma direção de como se deve orar e não somente de repetição, porque o próprio Jesus, antes de ensinar a oração, condenou as vãs repetições (Mt 6.7), mas como podemos aprender mais sobre a oração?

Existe algum livro na Bíblia em que poderíamos nos debruçar de maneira mais profunda?

Sabemos que toda a Escritura é divinamente inspirada, útil para ensinos, exortação, correção, instrução na justiça (2 Tm 3.16), todavia, falando mais especificamente, onde podemos aprender de forma mais profunda sobre como deveríamos nos direcionar a Deus?

O livro dos Salmos nos traz esta resposta, podemos nos juntar em oração a todos estes que expressaram nas Escrituras inspiradas, de maneira singular os seus sentimentos, necessidades, alegrias e desejos, segundo as palavras de João Calvino: “Tenho por costume denominar este livro- e creio não de forma incorreta- de: Uma Anatomia de Todas as Partes da Alma, pois não há sequer uma emoção da qual alguém por ventura não tenha participado que não esteja aí representada como num espelho.”[2]

Lutero: “Uma mini-bíblia e sumário do Velho Testamento” e ainda Melanchthon: “A mais elegante obra existente no mundo” [3]

Por isso, um entendimento um pouco mais denso  do Saltério é de extrema importância para a vida cristã e é o que demonstraremos como ajuda, mas sabendo que este tema traz muito mais profundas constatações:

1-Qual o estilo literário e composição dos Salmos?

No texto hebraico, a coleção completa dos Salmos chama-se “louvores”, A septuaginta, tradução grega do AT, chamou-a de Salmos, o verbo grego, de onde o substantivo Salmos deriva, indica basicamente, tocar ou ranger cordas, o que sugere uma associação com acompanhamento musical. O título em português deriva do grego. [4]

“O Livro dos Salmos, são uma coletânea de orações e hinos inspirados hebraicos, e são de grande beneficio para o crente que deseja ter ajuda da Bíblia para expressar alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, esperanças e pesares.”[5]

Os Salmos se encaixam no que chamamos de livros poéticos, sendo que a principal constituição da poesia hebraica era formada pelo paralelismo [6]. Também que o vocabulário da poesia era muito tratado de forma metafórica e símile, compreender isso será de grande valia para meditação e oração.

“Devemos lembrar que os Salmos tratam da mente através do coração, boa parte de sua linguagem é intencionalmente emotiva.”[7] Os Salmos tanto podem ser recebidos como o Livro de Cânticos para o povo de Deus como igualmente um manual de oração completo.

2- Quais são os tipos de Salmos?

Entre tantos Salmos eles podem ser classificados de diversas maneiras, mas primariamente são divididos em 5 livros [8] e dentre eles encontramos subdivididos em 7 tipos, sendo que louvor, lamentos e ações de graças são os mais comuns:

2.1-Salmos de Lamentação

As lamentações repassam pela maior parte dos Salmos, há mais de 60, incluindo lamentações individuais (3, 22, 31, 39, 42, 57, 71, 120, 139, 142) e coletivas (12, 44, 80, 94, 137). Estes levam a pessoa a expressar diante de Deus suas lutas, sofrimento e ou decepção. Fazendo isso de maneira individual ou para um grupo maior de pessoas, coletivamente. [9]O lamento é facilmente reconhecido pelo teor do Salmo. È um cântico de desorientação, abandono, angústia e sofrimento. Qual pessoa nunca passou por esta situação?

As dificuldades vêm de três fontes e podem ser classificados de acordo com base na origem da dificuldade, no entanto não é incomum todos os três estarem presentes no mesmo Salmo.

1.1- A dificuldade pode vir do inimigo, sendo este humano e procura prejudicar e muitas vezes até mesmo matar o salmista (Sl 57,4).
1.2- A dificuldade pode vir do próprio salmista, ele reage com fraqueza a dor que experimenta (Sl 22.14-15).
1.3- Mas, a pior de todas as dificuldades é a luta com o próprio Deus, onde o salmista se sente abandonado por Deus em meio a sua duvida, dor ou preocupação (Sl 102,9-10). [10]

Dentre as lamentações, encontramos as partes que chamamos de "Salmos imprecatórios", que contêm verbalizações diante de Deus da nossa ira, e o desejo pelo castigo. O contexto destes Salmos fica melhor compreendido, lembrando que muitas vezes nos Salmos a associação do Rei e com seu povo era inseparável, o que acontecia com o Rei acontecia com seu povo, em certos momentos, esta ligação é feita com o próprio Cristo, sendo assim, como mediador representante de Deus na terra, Davi orava da perspectiva que esses inimigos não ofendiam somente a ele, mas também ao povo de Deus e ao próprio Deus.
 Em outras palavras aprender a colocar diante de Deus todas as situações, porque Ele é justo juiz, capaz de julgar retamente, em vez de nós tornarmos a pagar o mal com o mal (Rom 12.19). Exemplos de Salmos Imprecatórios (7,35,40, 55,58-59,69,79,109)

Embora pareça contraditório com os ensinos de Jesus, sobre amar o inimigo, em nada se contradiz, porque erroneamente as pessoas tendem a igualar o “amor” com “ter um sentimento caloroso para com”. No entanto o ensino de Jesus diz respeito ao que você faz em prol daquela pessoa, não como você se sente em relação, isso é o que demonstra amor (Lc 10.25-37).

O Salmos conhecidos como "Penitenciais" também fazem parte do grupo dos Salmos de Lamentação, geralmente estão inseridos dentro da lamentação pelo pecado.

2.2-Salmos de Ações de Graças

Estes Salmos apresentam semelhanças aos de lamento em sua forma, porque se dividem em individuais (18, 30, 32, 34, 40, 66, 92, 116, 118,138) e 6 comunitários (65, 67, 75, 107, 124, 136), mas totalmente opostos nas circunstâncias, porque eles servem para expressar a alegria diante do Senhor por sua proteção, fidelidade e bondade.

“Ele é intimamente ligado ao Hino e em geral soa como um hino no inicio. A grande diferença pode ser vista no foco específico do louvor, onde o salmista louva o Senhor pelo livramento.”[11]

2.3-Salmos de Hinos de louvor

Estes Salmos se centralizam no louvor a Deus, por causa de quem Ele é, pela sua grandeza, sendo louvado como Criador do universo (8, 19, 104, 148) protetor e benfeitor de Israel (66, 100, 111, 114, 149) e ainda Senhor da história (33, 103, 113, 117, 145-147).

Deus merece todo louvor e embora o lamento seja mais frequente nos Salmos, o hino é quem domina o tom do Saltério. Uma constatação que podemos ver dizem respeito a que os hinos não aparecem muito no começo do Saltério, mas tem uma crescente principalmente nos cinco finais, conhecidos como a grande doxologia.(145-150)

É interessante notar como o salmista seguidamente justifica o louvor, como citado acima, por quem Deus é, fez e sustenta. O hino pode ser reconhecido pelo seu tom exuberante de louvor, convidando outros a se juntarem a ele nesta tarefa maravilhosa de louvar a Deus.

2.4-Salmos da História da Salvação

Também chamados de Salmos de recordação, estes relatam as preces atendidas por Deus no passado (78, 105, 106, 135, 136), principalmente o ato da libertação do povo no Egito e a Sua criação dele como povo. De certa forma, esta lembrança dos grandes atos feitos por Deus, são lembranças que constroem a confiança ainda maior em Deus.

“Existem muito Salmos de lamentação, hinos que chama atenção para os atos de libertação divina, então é de se esperar que alguns Salmos sejam agrupados em um gênero com base em seu interesse nos grandes atos redentores de Deus no passado.”[12]

2.5-Salmos de Celebração e Afirmação

Podemos incluir nesta categoria vários tipos de Salmos:

5.1- O de renovação da aliança, (50, 81) que tem objetivo de levar o povo de Deus para uma renovação da aliança que Ele fez no monte Sinai. O Salmo 89 e o 132são categorizados como sendo Salmos Davídicos de aliança, e sabendo que esta linhagem leva ao nascimento de nosso Senhor, esses Salmos oferecem o pano de fundo para Seu ministério messiânico.

5.2-Salmos Reais (2,18,20,21,45,72,101,110,144) onde um deles (18) é um Salmo de ação de graças reais e um (144) é uma lamentação real.

“Sem tentar delinear cada Salmo que emana da corte real, precisamos reconhecer dois tipos de Salmos da realeza no Saltério: 1- Os que exaltam Deus como Rei (Sl 98.1) e 2- Os que exaltam o governante de Israel como rei”(Sl 21.1-4).[13]

5.3-Salmos de entronização (24, 29, 47, 93, 95-99) é provável que estes celebrassem a entronização do rei no Israel antigo, que talvez fosse repetida anualmente, alguns tem argumentado que representa a própria entronização do Senhor.

5.4-Cânticos de Sião, ou de Jerusalém (46,48,76,84,87,122). De acordo com as predições de Deus através de Moisés para os Israelitas enquanto estivesse no deserto (Dt 12), Jerusalém veio a ser o centro de Israel, o lugar do templo edificado e do trono de Davi, também vista como cidade santa recebe atenção especial nestes cânticos, visto que o NT se utiliza muito do símbolo de uma Nova Jerusalém (o céu) estes Salmos são muito uteis na adoração e oração.[14]

2.6-Salmos de Sabedoria

Entre o Saltério, existem também Salmos classificados como literatura de sabedoria (1, 36,37, 49,73, 112, 119, 127, 128, 133), em sua essência ele traz as acentuadas antíteses entre o sábio e o tolo, o justo e o ímpio, o Salmo 1 funciona como a porta de entrada para a adoração de Deus, outro fato é a estreita relação entre a sabedoria e a lei. Estes Salmos podem ser relacionados como a instrução de Deus para uma vida reta diante dele.

2.7-Salmos de Cânticos de Confiança

Também classificado como Salmos de confiança, (11, 16, 23, 27, 62, 91, 121, 125, 131) seu próprio nome já sugere, são recordações que o adorador expressa em Deus como seu protetor, estas declarações também estão contidas nos hinos e lamentos, mas assume um papel predominante nestes Salmos, este gênero é notável pelo uso de metáforas de Deus como refugio. Mesmo em tempos de desespero, podemos confiar em Deus em dias bons ou maus.

4-Composição dos Salmos

Na perspectiva divina, o saltério aponta Deus como seu autor. Considerando a autoria a partir do lado humano, pode se identificar mais de 7 autores [15]. São atribuídos a Davi quase metade dos Salmos 73 ao todo, Moisés escreveu um (Sl 90) Salomão escreveu dois (72 e 127), os filhos de Asafe 12 vezes (Sl 50;73-83) e filhos de Coré também escreveram 10 vezes (42; 44-49; 84-85; 89) e Jedutum (4 vezes).

5-Período dos Salmos

O Livro do Salmos foi o livro do Antigo testamento mais usado no novo testamento, ele atravessa por praticamente todo o Antigo testamento e é de difícil definição precisa porque os Salmos individuais não podem ser datados especificamente, mas ele se estende de Moisés, 1410 a.c, até ao período pós-exílico do final do século 6 ou inicio do século 5, abrangendo 900 anos da história judaica. Apesar disso, historicamente falando, o Salmos abrange o período da origem da vida até a alegria pós-exílio dos judeus libertados da Babilônia. Poderiam ser divididos de duas formas:

1- Os atos de Deus na criação e história e 2- A história de Israel [16]. Ele foi citado no Novo Testamente, inclusive pelo próprio Jesus (Mt 27.46), por Paulo diversas vezes no livro de Romanos, diversas vezes pelo autor de Hebreus, também no livro de Atos e o evangelho de João, somando assim mais de 60 citações no Novo Testamento.

Sendo assim, podemos tirar lições valiosas para nós hoje, porque os Salmos nos ensinam a ter um relacionamento sincero com Deus em seus próprios termos, os Salmos nos dirigem em adoração não somente sincera mas com orientação e os Salmos nos remetem a meditar nas maravilhas, riquezas, misericórdias das coisas que Deus fez para nós, tornando assim um caderno de orações onde o próprio Deus nos ensina como podemos nos dirigir a Ele com sua própria palavra.

Também nos ajuda a entender que a vida do cristão nem sempre será fácil e sem tribulações, pelo contrário, nos leva a aprender que o sofrimento é uma coisa praticamente certa na vida de um cristão genuíno, mas nos conduz a um caminho de confiança, esperança e alegria em meio as dificuldades e sofrimento, pois aquele que começou a boa obra é fiel para cumpri-la em nos ate o dia do nosso Senhor Jesus. (Fp 1.6)

Em Cristo

Guinho

Notas


[1] - Retirado do texto Augustos Nicodemus, sobre interpretação histórica gramatical
http://www.escolacharlesspurgeon.com.br/nav/pregacoes/texto.cshtml?categoria=teologicas&id=113
[2] - Salmos Volume1- João Calvino- Editora Fiel pág. 27
[3] - Salmos Volume 1- João Calvino- Editora Fiel pág. 13
[4] - Biblia Estudo Macarthur pág, 678 SBB
[5] - Entendes o que lês?- Gordon D. Fee &Douglas Stuart- Edições Vida Nova pág. 175
[6] - O paralelismo era a principal forma na poesia hebraica, método muito usado para ensino e ele era dividido entre outras formas como SINONIMICO, onde a segunda ou linha subsequente, repete ou reforça o sentido da primeira linha,(Sl 2.1) ANTITÈTICO, onde a segunda ou linha subsequente, contrasta o pensamento da primeira (Sl 1.6) e o CLIMATICO, onde a segunda linha ou subsequente acrescenta algo a primeira fornecendo mais informação (Sl 29.1-2) e QUIASTICO onde as unidades lógicas são desenvolvidas em um padrão A...B...B...A ex. Salmo 1.2.
[7] - Entendes o que lês?- Gordon D. Fee &Douglas Stuart- Edições Vida Nova pág. 177
[8] - Divisão do Saltério: Livro 1-Salmos 1-41; Livro 2-Salmos 42-72; Livro 3-Salmos 73-89; Livro 4- Salmos 90-106 e o Livro 5-Salmos 107-150
[9] - Entendes o que lês?- Gordon D. Fee &Douglas Stuart- Edições Vida Nova pág.182
[10] - Introdução ao AT-Raymond b. Dillard & Tremper Longman III-Vida Nova pág-209-210
[11] - Introdução ao AT-Raymond b. Dillard & Tremper Longman III-Vida Nova pág-211
[12] - Entende o que lês? -Gordon D. Fee & Douglas Stuart- Edições Vida Nova pág.-183
[13] - Introdução ao AT-Raymond b. Dillard & Tremper Longman III-Vida Nova pág-214
[14] - Entende o que lês? -Gordon D. Fee & Douglas Stuart- Edições Vida Nova pág.-184
[15] - Biblia Estudo Macarthur- pág 678 SBB
[16] - Biblia Estudo Macarthur- pág 678 SBB


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