quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Breve Teologia Bíblica do Decálogo




O Antigo Testamento é rico de muitos modos, em seus vários tipos de literatura (história, lei, poesia, profecia), em seu período histórico (da criação à restauração de Israel do exílio), em seus detalhes proféticos concernentes à Primeira e Segunda Vinda de Cristo, e em seu tema multifacetado. Todo aquele que lê o Antigo Testamento percebe nitidamente a gama de temas, entre eles, falando em termos gerais: Deus, o homem, o pecado, a relação ligada à redenção e aliança de Deus com o homem, e o futuro governo messiânico do Filho de Deus, o Messias. Como os vários segmentos da Bíblia se relacionam com estes temas, é a função da Teologia Bíblica mostrar o que a Bíblia ensina teologicamente.

BREVE TEOLOGIA BÍBLICA DO DECÁLOGO

Os Dez Mandamentos são dez leis na Bíblia que Deus deu à nação de Israel logo após o êxodo do Egito. Os Dez Mandamentos são essencialmente um resumo dos mais de 600 mandamentos contidos na Lei do Antigo Testamento. Os primeiros quatro mandamentos lidam com a nossa relação com Deus. Os outros seis mandamentos lidam com os nossos relacionamentos com os outros. Os Dez Mandamentos estão registrados na Bíblia em Êxodo 20:1-17 e Deuteronômio 5:6-21

O PRIMEIRO MANDAMENTO – “Não terás outros deuses diante de mim”. Este mandamento é contra a adoração de qualquer deus que não seja o único e verdadeiro Deus. Todos os outros são falsos deuses.

Este primeiro mandamento trata diretamente da relação pressuposta pelo tratado do soberano e servo. O Senhor em virtude de eleger e libertar salvadoramente o povo tirando-o de outro senhor (o Egito), ordena os israelitas a empreender e manter uma atitude de lealdade indivisa a Ele. “Não terás outros deuses diante de mim” (v.3) é uma afirmação categórica das reivindicações exclusivas do Senhor de domínio e adoração. Violar este mandamento é repudiar a totalidade da relação entre soberano e vassalo, pois se trata de alta traição.

Deus durante todo o Antigo Testamento e eras da revelação da Sua Promessa, enfatizou que Ele é o único Deus, e que o povo deveria prestar total reverência e viver de acordo com suas leis, pois fazendo isso eles seriam o seu povo.

O SEGUNDO MANDAMENTO – “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”.

Este mandamento proíbe a representação do Senhor por qualquer tipo de ídolo ou semelhança, pois representá-Lo é limitar o Deus soberano e confundir o Criador com a criação. Os que praticam idolatria aborrecem o Senhor, ao passo que os que não a praticam são os que o amam. Os idólatras, pelo próprio ato da idolatria, rejeitam o verdadeiro Deus quando Ele escolhe revelar-se, e escolhem uma invenção da sua própria imaginação. Por outro lado, os que o amam lhe obedecem, tornam-se recebedores do seu amor recíproco. A lealdade ao Senhor por parte do povo-servo ocasionará a resposta de compromisso leal e infalível a eles.

Este mandamento é contra a fabricação de ídolos, representações visíveis de Deus. Não existe imagem que nós possamos criar que possa precisamente retratar a Deus. Fazer com que um ídolo represente Deus é adorar um falso deus. Calvino escreveu sabiamente: “O coração do homem é uma fábrica de ídolos”, por todo o Antigo Testamento vemos isso claramente, por inúmeras vezes o povo se voltava a todos os tipos de idolatria. Hoje em dia continuamos a ver o homem produzindo ídolos para si, até mesmo dentro das igrejas ditas como evangélicas, pessoas adorando um Deus criado a partir de suas próprias mentes e nem um pouco parecido com o Deus das Escrituras.

TERCEIRO MANDAMENTO – “Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”.

Este mandamento conecta o nome do Senhor com o próprio Senhor. O abuso do nome divino é equivalente a sacrilégio, pois no antigo Oriente Próximo e em Israel os nomes não só descreviam os atributos, caráter e destino dos indivíduos nomeados, mas, às vezes, era sinônimo de pessoa. Abusar do nome divino ou usá-lo sem propósitos ou de maneira imprópria é tentar manipular Deus para fins e propósitos humanos. É um esforço arrogante do servo obter vantagem para si, prostituindo esse nome e Pessoa santos, desta forma invertendo o papel para o qual ele foi posto em comunhão.

Este é um mandamento contra o tomar o nome do Senhor em vão. Não devemos tratar o nome de Deus levianamente. Devemos demonstrar reverência a Deus mencionando-o apenas de formas respeitosas e honrosas. Deus preza pelo Seu Santo Nome, e esse cuidado é expressando nesse mandamento.

QUARTO MANDAMENTO – “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou”.
Este mandamento tira o foco do reconhecimento apropriado e respeito à Pessoa do Senhor como Deus de Israel e coloca no regulamento do exercício do domínio humano sobre a terra. Ele tem de “lembrar-se do dia do sábado, para o santificar” (Ex 20:8). Essa lembrança é feita pela interrupção do trabalho comum, no sétimo dia da semana, pela família israelita, seus servos e até as bestas de carga. A significação teológica sugerem que as razões para separar o dia são:

1 – que o Senhor fez todas as coisas em seis dias e descansou no sétimo e

2 – que Ele celebrou essa cessação de trabalho criativo pondo de lado o dia de descanso para ser um memorial.

Deus é o Senhor sobre o espaço e tempo. O homem como vice-regente e imagem de Deus também tem de cessar o trabalho no antegozo de um “dia de descanso” de dimensões tanto históricas quanto escatológicas. Em termos de concerto sinaítico, o sábado era para lembrar Israel do seu papel como povo-servo e do cumprimento desse papel no dia de descanso.

QUINTO MANDAMENTO - “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá”. Este é um mandamento para sempre tratar os seus pais com honra e respeito.

A referência ao trabalho no quarto mandamento agora é ligada à terra no quinto, pois a obediência com relação à avaliação apropriada dos pais resultará em vida longa na terra. É apropriado que os pais humanos sejam honrados como representantes do Senhor a quem devemos a mais alta deferência e honra. Honrar os pais é honrar o Senhor, e desonrá-los é nada mais que violação e infidelidade. O quinto mandamento pertence às dimensões verticais da relação humana.

O SEXTO MANDAMENTO - “Não matarás”. Este é um mandamento contra o assassinato premeditado de outro ser humano.

O homem não deve assassinar o membro da raça humana, pois tal assassinato é na realidade um ataque letal contra o próprio Deus. Porque a vida é, por via de regra, sagrada para Deus e para o homem principalmente. Por estas razões, a violação do homem ao ponto da morte é uma afronta à soberania de Deus, uma agressão no seu representante terreno.

O SÉTIMO MANDAMENTO - “Não adulterarás”. Este é um mandamento contra ter relações sexuais com qualquer pessoa que não seja o seu esposo ou esposa.

O adultério a nível humano é infidelidade, na verdade, é um análogo apropriado à infidelidade em nível mais alto, o nível divino-humano. A revelação bíblica é penetrante como frases como “não se prostituam após os seus deuses”, imagem que fala de Israel abandonar a Soberania redentora a favor de outro que não tem reivindicações ou legitimidade. Adultério é a mistura do verdadeiro e do falso, do santo e do profano, do puro e do corrupto. É a ultrapassagem da linha que circunscreve a relação de confiança entre parceiros que fizeram a promessa mútua de compromisso leal.

OITAVO MANDAMENTO - “Não furtarás”. Este é um mandamento contra tirar qualquer coisa que não nos pertence sem a permissão daquele a quem tal coisa pertence.

Roubar é cometer pelo menos três pecados contra Deus:

1 – Tirar de outro o que lhe foi dado e necessita para exercer mordomia;
2 – descumprir a própria tarefa com base no que Deus deu;
3 – arruinar os propósitos sábios de Deus que dá a cada um de acordo com a sua função e habilidade.

Todas as coisas, materiais e imateriais, pertencem a Deus e devem ser distribuídas segundo o seu desejo gracioso.

NONO MANDAMENTO - “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Este é um mandamento contra o testemunhar contra outra pessoa falsamente. É essencialmente um mandamento contra a mentira.

Na comunhão de compromisso comum, as negociações entre o israelita e seu companheiro devem ser tão honestas e confiáveis quanto entre um vassalo e seu senhor. Dizer falso testemunho é provocar discussão dentro da comunidade e interromper o funcionamento ordenado e harmonioso do reino.

DÉCIMO MANDAMENTO - “Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo”. Este é um mandamento contra o desejar qualquer coisa que não lhe pertença. A cobiça pode levar a outras proibições listadas acima: assassinato, adultério e roubo. Se é errado fazer uma coisa, também é errado desejar fazer essa mesma coisa.

Os outros mandamentos inevitavelmente manifestam-se em expressão exterior até certo ponto ou outro, mas, teoricamente, a cobiça existe só na mente e no coração e nunca se evidencia em ato externo. No momento que se exterioriza não é mais cobiça. O desejo impróprio está no nível mais “espiritual” de roubo, adultério e seus semelhantes,e por isso é proibido.

Mesmo que a cobiça nunca se realize no comportamento público, é uma ruptura séria, porque o Senhor, que conhece o coração, se ofende com isso.A cobiça impugna a sabedoria e bondade de Deus, questionando a concessão divina das bênçãos da vida em acordo com o seu plano onisciente.


Finalmente, a função formal e teológica do Decálogo fica clara quando a vemos no contexto do ato redentor do êxodo e dos propósitos eletivos de Deus para Israel como povo vassalo, conduzindo na comunhão com Ele, a fim de servir como reino de sacerdotes. Particularmente os Dez Mandamentos, fornece as diretrizes segundo as quais este povo privilegiado tinha de ordenar-se para que realmente fosse uma nação santa capaz de exibir o reino de Deus e mediar os benefícios e promessas salvíficas para o mundo em geral da humanidade alienada.


Fontes:

Site Wikipedia
Site GotQuestions
Roy B. Zuck, Teologia do Antigo Testamento, Ed.CPAD, Rio de Janeiro, 2010.

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